Tesouras de Liberdade: Cortes que valorizam a textura do cabelo crespo
Muito além da estética, o cabelo natural se tornou sÃmbolo de resistência, autoestima e representatividade para milhões de pessoas negras no Brasil

Por muito tempo, o cabelo crespo e cacheado foi visto como algo que precisava ser domado, alisado e escondido. A imposição de um padrão eurocêntrico de beleza deixou marcas profundas, tanto nas cabeças quanto na autoestima de milhares de mulheres e homens negros.Â
Mas nas últimas décadas, esse cenário começou a mudar. E, nesse processo, o corte de cabelo deixou de ser apenas uma questão estética: virou um gesto polÃtico, um rito de libertação e uma forma poderosa de afirmação de identidade.
O renascimento
Um dos momentos mais simbólicos dessa reconexão é o chamado big chop, o corte que remove toda a parte do cabelo com quÃmica, geralmente alisado, para deixar os fios naturais crescerem livres.
Para quem passa por essa transição capilar, o big chop é mais do que uma mudança de visual: é uma ruptura com o passado e um abraço ao que foi negado por tanto tempo.
Cortes que valorizam a textura do cabelo crespo
Com a valorização da estética afro, surgiram (ou ganharam mais visibilidade) cortes pensados especialmente para cabelos crespos e cacheados. Alguns dos mais populares incluem:
- Tapered hair
Volumoso no topo e com as laterais mais baixas, é um dos favoritos por quem busca estilo e praticidade.
SÃmbolo máximo de resistência, o black power nunca sai de moda e tem forte carga simbólica.
- Corte em camadas
Ajuda a definir os cachos e distribuir o volume com harmonia.
Combinação entre raspado nas laterais e topo definido, mistura atitude e modernidade.
Valorizado por artistas e influenciadoras, aposta em linhas bem marcadas e criativas.
Cuidados pós-corte: como manter a saúde do cabelo natural
Adotar um corte que valoriza o cabelo crespo ou cacheado é só o começo. Para manter a beleza dos fios e garantir que o visual continue potente, é fundamental investir em cuidados especÃficos.
A hidratação regular é a base da saúde capilar: máscaras ricas em óleos vegetais, como coco, rÃcino e abacate, ajudam a manter o brilho e a definição.
Além disso, produtos sem sulfato e com fórmula liberada (sem petrolatos e parabenos) são ideais para não ressecar os fios. O uso de finalizadores como cremes de pentear e gelatinas ajuda a modelar e proteger a estrutura do cacho.Â
E, claro, o cronograma capilar, com etapas de hidratação, nutrição e reconstrução, pode ser adaptado à rotina e às necessidades de cada pessoa.
Cuidar do cabelo natural é, acima de tudo, um ato de carinho e conexão com a própria identidade.
Sobre a barbearia
Como visto, o movimento não é exclusivo das mulheres. Muitos homens negros também têm explorado os cortes como ferramenta de autoestima.
Barbearias voltadas ao público afro ganharam força em diversas cidades do paÃs, oferecendo cortes como o fade, o afro shape e desenhos personalizados, além de criarem espaços seguros para conversas sobre negritude, moda e cultura urbana.
Representatividade no corte
A força dos cabelos naturais também se reflete na mÃdia, na publicidade e nas redes sociais. Influenciadoras, atrizes, modelos e cantoras negras têm usado seus cachos e crespos com orgulho, e isso inspira.Â
Ver uma criança negra com cabelo natural na TV ou uma jovem com um corte ousado no TikTok pode parecer simples, mas é revolucionário.
Pesquisas mostram que a aceitação do cabelo natural tem impacto direto na construção da autoestima entre jovens negros. É sobre se ver, se reconhecer, se sentir parte de algo maior.
Sobre o preconceito
Apesar dos avanços, o preconceito persiste. O chamado racismo capilar ainda faz parte da realidade de muitas pessoas negras, que enfrentam crÃticas em ambientes de trabalho, escolas ou até mesmo dentro da própria famÃlia.Â
Por isso, falar sobre cortes de cabelo é também falar sobre racismo estrutural, e sobre como combatê-lo todos os dias, inclusive com as escolhas estéticas.