Mudanças no INSS: Fim da jornada fixa e adoção de metas de desempenho enfrentam reação dos servidores
Punições por não cumprir metas: como as novas regras afetam os trabalhadores.
O governo federal, por meio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), propôs uma série de mudanças no Programa de Gestão e Desempenho (PGD) que alteram profundamente a forma como os servidores públicos deverão cumprir suas funções. A principal alteração é a substituição da tradicional jornada de trabalho fixa, de 8 horas diárias, por metas de desempenho. Essa mudança gerou uma forte reação de sindicatos, que consideram as novas regras prejudiciais aos trabalhadores. A seguir, veja uma análise detalhada das modificações propostas e suas implicações.
Substituição da jornada de trabalho por metas de desempenho
A mudança mais significativa trazida pelo novo PGD é a substituição da jornada de trabalho fixa pela exigência de metas de produtividade. Desde a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943, a jornada de trabalho no Brasil tem sido estabelecida como de 8 horas diárias, com 44 horas semanais. Com a nova proposta do INSS, essa estrutura rígida de carga horária é substituída por um sistema de metas, onde o servidor deverá atingir determinados objetivos dentro de um período específico, independentemente da quantidade de horas trabalhadas.
Embora a proposta vise aumentar a eficiência e a produtividade dos servidores, ela tem gerado controvérsias, pois o novo modelo coloca a ênfase no resultado, sem levar em conta as condições de trabalho, a sobrecarga de tarefas e as limitações individuais. Para muitas entidades sindicais, essa mudança pode resultar em maior pressão sobre os trabalhadores, com reflexos negativos na saúde mental e emocional.
Punições e consequências para o não cumprimento das metas
Outra mudança importante no PGD são as punições previstas para os servidores que não cumprirem as metas de desempenho estabelecidas. Em caso de descumprimento, o servidor poderá enfrentar processos administrativos e descontos salariais, medidas que não estão previstas na legislação atual.
Esse ponto tem gerado preocupação nas entidades sindicais, que alertam para o aumento do assédio moral e da pressão sobre os trabalhadores. A imposição de metas rígidas, sem a devida análise das condições de trabalho e da capacidade dos servidores, pode levar a um ambiente de trabalho mais hostil e competitivo, onde os trabalhadores se sentem constantemente vigiados e ameaçados de punições. Isso, segundo líderes sindicais, poderia causar danos psicológicos e físicos aos servidores, além de diminuir a qualidade do serviço prestado à população.
Impacto no teletrabalho: aumento das metas e transferência de custos
O novo PGD também prevê um aumento de 30% nas metas para os servidores que trabalham em regime de teletrabalho. Além disso, a proposta transferiria a responsabilidade pela infraestrutura de trabalho para os próprios servidores, impondo custos adicionais. Isso inclui gastos com internet, equipamentos e outros recursos necessários para desempenhar as funções remotamente.
Para as entidades sindicais, essa medida é considerada ilegal, uma vez que ela transfere responsabilidades que deveriam ser do empregador, além de representar um ônus financeiro para os servidores. Os sindicatos argumentam que, ao estabelecer esse aumento nas metas e transferir os custos, o INSS está criando um cenário de injustiça para os trabalhadores, que já enfrentam dificuldades operacionais, como sistemas lentos e falta de pessoal para atender a demanda da população.
Reações das entidades sindicais
A Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps) foi uma das primeiras a se manifestar contra as mudanças no PGD. A Fenasps considera as mudanças propostas como inviáveis e alerta para o fato de que muitos servidores já enfrentam condições de trabalho precárias. De acordo com a federação, a falta de infraestrutura, a sobrecarga de tarefas e o número insuficiente de pessoal tornam a cobrança de metas ainda mais difícil, senão impossível.
A Fenasps convocou uma mobilização entre os servidores do INSS e declarou estar em estado de greve. A categoria exige mais tempo para discutir as implicações da proposta e garantir que as mudanças sejam feitas de forma adequada, com a devida análise das condições de trabalho. Para a Fenasps, a implementação das novas regras sem um debate amplo e sem considerar as dificuldades estruturais do INSS seria um retrocesso para os servidores e para a sociedade como um todo.