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Medicamentos arriscados: 70% dos idosos estão em risco, aponta pesquisa

Medicamentos potencialmente inadequados são aqueles que, para certos pacientes, apresentam mais riscos do que vantagens.

A saúde dos idosos é um tema de crescente preocupação no Brasil, especialmente quando se trata do uso de medicamentos. Um estudo recente realizado pelo renomado Hospital Sírio-Libanês trouxe à tona uma realidade alarmante: uma parcela significativa de pacientes idosos internados pode estar recebendo medicamentos que oferecem mais riscos do que benefícios. Esta descoberta levanta questões importantes sobre a segurança e a eficácia dos tratamentos farmacológicos em pacientes geriátricos.

O estudo, publicado no respeitado Journal of the American Medical Directors Association (JAMDA), lança luz sobre um problema que há muito tem sido motivo de preocupação entre profissionais de saúde: o uso de medicamentos potencialmente inapropriados (PIMs) em idosos. Esses medicamentos são definidos como aqueles que, para determinados pacientes, apresentam riscos que superam os potenciais benefícios terapêuticos.

A pesquisa analisou um número expressivo de internações, focando em pacientes com 60 anos ou mais. Os resultados são preocupantes e destacam a necessidade urgente de uma revisão nas práticas de prescrição para esta faixa etária. O estudo não apenas identifica o problema, mas também oferece insights valiosos sobre as possíveis consequências do uso inadequado de medicamentos em idosos.

Nas seções seguintes, exploraremos em detalhes os achados deste estudo pioneiro, suas implicações para a saúde pública e as possíveis soluções para mitigar os riscos associados ao uso de PIMs em pacientes idosos. Abordaremos também as particularidades do tratamento farmacológico em geriatria e as estratégias que podem ser adotadas para melhorar a segurança e a eficácia dos cuidados médicos oferecidos a esta população vulnerável.

Metodologia do Estudo

Amostra e Coleta de Dados

O estudo conduzido pelo Hospital Sírio-Libanês se destaca pela sua abrangência e rigor metodológico. A pesquisa analisou um total de 15 mil internações de indivíduos com 60 anos ou mais, representando uma amostra significativa e diversificada da população idosa hospitalizada.

A coleta de dados foi realizada de forma minuciosa, utilizando um sistema de suporte à decisão clínica integrado ao prontuário eletrônico dos pacientes. Este sistema inovador emprega inteligência artificial para identificar e alertar sobre o uso de medicamentos potencialmente inapropriados (PIMs).

Critérios de Avaliação

Os pesquisadores estabeleceram critérios rigorosos para avaliar a adequação dos medicamentos prescritos. Estes critérios levaram em consideração fatores como:

  • Interações medicamentosas
  • Dosagens apropriadas para idosos
  • Contraindicações específicas para a faixa etária
  • Potenciais efeitos colaterais em pacientes geriátricos

A avaliação foi realizada de forma contínua durante todo o período de internação dos pacientes, permitindo uma análise detalhada e longitudinal do uso de medicamentos.

Uso de Inteligência Artificial

Um aspecto inovador do estudo foi a utilização de inteligência artificial para analisar as prescrições médicas. O sistema de IA foi programado para:

  1. Identificar automaticamente medicamentos potencialmente inapropriados
  2. Gerar alertas em tempo real para a equipe médica
  3. Sugerir alternativas mais seguras, quando aplicável
  4. Monitorar padrões de prescrição ao longo do tempo

Esta abordagem tecnológica permitiu uma análise mais precisa e abrangente, reduzindo a margem de erro humano e fornecendo insights valiosos sobre práticas de prescrição.

Análise Estatística

Os dados coletados foram submetidos a uma análise estatística robusta. Os pesquisadores utilizaram métodos avançados para:

  • Calcular a prevalência de PIMs entre os pacientes idosos
  • Identificar fatores associados ao uso de medicamentos inapropriados
  • Avaliar o impacto do uso de PIMs no tempo de internação e nos desfechos clínicos

A análise estatística foi fundamental para validar os resultados do estudo e fornecer uma base sólida para as conclusões apresentadas.

Resultados Principais

Prevalência de Medicamentos Potencialmente Inapropriados

O estudo revelou dados alarmantes sobre o uso de medicamentos potencialmente inapropriados (PIMs) em pacientes idosos hospitalizados. De acordo com a análise, 71,8% dos pacientes apresentaram pelo menos um alerta de uso de PIMs durante sua internação. Este percentual é significativamente alto e indica uma prática generalizada de prescrição que pode estar colocando em risco a saúde dos idosos.

A prevalência elevada de PIMs sugere que:

  1. Há uma necessidade urgente de revisão das práticas de prescrição para pacientes geriátricos
  2. Os protocolos de segurança do paciente podem não estar adequadamente adaptados às necessidades específicas dos idosos
  3. Existe uma possível lacuna na formação médica em relação à farmacologia geriátrica
Medicamentos arriscados
Medicamentos arriscados | Imagem: momenta

Tipos de Medicamentos Frequentemente Identificados como PIMs

O estudo identificou várias classes de medicamentos que frequentemente geraram alertas como potencialmente inapropriados para idosos. Entre eles, destacam-se:

  • Benzodiazepínicos de longa duração
  • Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) em uso prolongado
  • Antipsicóticos em pacientes sem indicação clara
  • Anticolinérgicos em pacientes com risco de declínio cognitivo
  • Hipoglicemiantes com alto risco de hipoglicemia em diabéticos idosos

Cada uma dessas classes de medicamentos apresenta riscos específicos para a população idosa, como aumento do risco de quedas, problemas gastrointestinais, confusão mental e interações medicamentosas perigosas.

Fatores Associados ao Uso de PIMs

A pesquisa também identificou fatores que estavam associados a uma maior probabilidade de receber prescrições de PIMs. Alguns destes fatores incluem:

  1. Idade avançada (acima de 80 anos)
  2. Polifarmácia (uso de múltiplos medicamentos)
  3. Presença de múltiplas comorbidades
  4. Internações em unidades não especializadas em geriatria
  5. Ausência de avaliação geriátrica abrangente na admissão

Estes achados sugerem que pacientes mais vulneráveis e complexos estão particularmente em risco de receber medicações potencialmente prejudiciais.

Impacto na Duração da Internação e Desfechos Clínicos

Um dos aspectos mais preocupantes revelados pelo estudo foi o impacto negativo do uso de PIMs nos desfechos clínicos dos pacientes. Os pesquisadores observaram que:

  • Pacientes que receberam PIMs tiveram internações mais prolongadas
  • Houve um aumento na incidência de complicações durante a hospitalização
  • Registrou-se um maior número de eventos adversos, como quedas e episódios de confusão mental
  • Em alguns casos, o uso de PIMs foi associado a um aumento na mortalidade hospitalar

Estes resultados destacam as consequências potencialmente graves do uso inadequado de medicamentos em idosos e reforçam a necessidade de intervenções para melhorar a segurança da prescrição nesta população.

Estratégias para Melhorar a Prescrição em Idosos

Adoção de Critérios Específicos para Prescrição Geriátrica

Para melhorar a segurança e eficácia da prescrição em idosos, é fundamental adotar critérios específicos para esta faixa etária. Algumas estratégias incluem:

  1. Implementação de ferramentas validadas como os Critérios de Beers ou STOPP/START
  2. Desenvolvimento de listas de medicamentos potencialmente inapropriados adaptadas à realidade brasileira
  3. Criação de protocolos institucionais para revisão regular de medicações em pacientes idosos
  4. Utilização de sistemas informatizados de suporte à decisão clínica, como o utilizado no estudo do Hospital Sírio-Libanês

Estas abordagens podem ajudar os médicos a identificar e evitar o uso de medicamentos potencialmente inapropriados (PIMs) em pacientes geriátricos.

Educação Continuada para Profissionais de Saúde

A formação contínua dos profissionais de saúde é essencial para melhorar as práticas de prescrição. Algumas iniciativas importantes incluem:

  • Programas de treinamento em farmacologia geriátrica para médicos e farmacêuticos
  • Workshops sobre avaliação geriátrica abrangente e manejo de polifarmácia
  • Cursos de atualização sobre novas diretrizes e evidências em prescrição para idosos
  • Simulações e estudos de caso para praticar a tomada de decisão clínica em cenários complexos

Investir na educação continuada pode reduzir significativamente o uso de PIMs e melhorar os desfechos clínicos em pacientes idosos.

Abordagem Multidiscipl inar na Avaliação e Prescrição

A complexidade do cuidado geriátrico exige uma abordagem que vá além da perspectiva de um único profissional. Uma estratégia multidisciplinar pode incluir:

  • Avaliações conjuntas envolvendo médicos, farmacêuticos, enfermeiros e outros especialistas
  • Reuniões regulares de equipe para discutir casos complexos e otimizar regimes terapêuticos
  • Implementação de rounds farmacêuticos em unidades geriátricas
  • Colaboração entre diferentes especialidades médicas para harmonizar prescrições

Esta abordagem integrada pode ajudar a identificar e resolver problemas relacionados a medicamentos de forma mais eficaz, reduzindo o risco de uso de PIMs.

Envolvimento do Paciente e Familiares no Processo de Prescrição

O engajamento ativo do paciente e de seus familiares é crucial para melhorar a segurança e eficácia da prescrição. Algumas estratégias incluem:

  1. Educação do paciente sobre seus medicamentos, incluindo benefícios e possíveis efeitos colaterais
  2. Incentivo à participação na tomada de decisões sobre o tratamento
  3. Fornecimento de materiais educativos adaptados para idosos (letras grandes, linguagem simples)
  4. Treinamento de cuidadores para auxiliar na administração correta dos medicamentos

Ao envolver ativamente o paciente e sua rede de apoio, é possível melhorar a adesão ao tratamento e a detecção precoce de problemas relacionados aos medicamentos.

Tecnologias e Inovações na Prescrição Segura

Sistemas de Suporte à Decisão Clínica

Os sistemas de suporte à decisão clínica (CDSS, na sigla em inglês) estão se tornando cada vez mais sofisticados e úteis na promoção de prescrições seguras para idosos. Estes sistemas podem:

  • Alertar sobre potenciais interações medicamentosas e contraindicações
  • Sugerir ajustes de dose baseados na função renal e hepática do paciente
  • Fornecer alternativas mais seguras quando um PIM é detectado
  • Integrar-se com prontuários eletrônicos para uma visão holística do paciente

O estudo do Hospital Sírio-Libanês demonstrou a eficácia desses sistemas na identificação de PIMs, destacando seu potencial para melhorar a segurança da prescrição.

Aplicativos Móveis e Ferramentas Digitais

O avanço da tecnologia móvel trouxe novas possibilidades para melhorar a prescrição em idosos:

  1. Aplicativos para smartphones que auxiliam médicos na escolha de medicamentos apropriados
  2. Ferramentas digitais para pacientes monitorarem sua medicação e efeitos colaterais
  3. Plataformas de telemedicina que facilitam a revisão regular de medicações
  4. Sistemas de lembretes e alarmes para melhorar a adesão ao tratamento

Estas inovações têm o potencial de empoderar tanto profissionais de saúde quanto pacientes, promovendo uma gestão mais eficaz e segura dos medicamentos.

Inteligência Artificial na Análise de Prescrições

A inteligência artificial (IA) está emergindo como uma ferramenta poderosa na otimização de prescrições para idosos:

  • Algoritmos de aprendizado de máquina para prever interações medicamentosas complexas
  • Análise de big data para identificar padrões de prescrição e seus resultados em larga escala
  • Sistemas de IA capazes de sugerir regimes terapêuticos personalizados baseados no perfil individual do paciente
  • Ferramentas de processamento de linguagem natural para analisar notas clínicas e identificar riscos potenciais

Embora ainda em desenvolvimento, estas tecnologias prometem revolucionar a forma como as prescrições são feitas e monitoradas em pacientes geriátricos.

Monitoramento Remoto e Telemedicina

O uso crescente de tecnologias de monitoramento remoto e telemedicina oferece novas oportunidades para melhorar a segurança da prescrição:

  • Dispositivos wearables que monitoram sinais vitais e podem detectar efeitos adversos precocemente
  • Consultas virtuais regulares para ajustar medicações sem necessidade de visitas presenciais frequentes
  • Sistemas de farmácia virtual que podem revisar prescrições e fornecer orientações em tempo real
  • Plataformas de compartilhamento de dados que permitem uma colaboração mais eficiente entre diferentes profissionais de saúde

Estas tecnologias podem ajudar a criar um sistema de cuidado mais contínuo e responsivo, reduzindo o risco de problemas relacionados a medicamentos em idosos.

Políticas e Diretrizes para Prescrição Segura em Idosos

Desenvolvimento de Protocolos Nacionais

A criação de protocolos nacionais específicos para a prescrição em idosos é fundamental para padronizar e melhorar as práticas de prescrição. Estes protocolos devem:

  1. Ser baseados em evidências científicas atualizadas e adaptados à realidade brasileira
  2. Incluir orientações claras sobre o uso de medicamentos em diferentes condições geriátricas
  3. Fornecer alternativas seguras para medicamentos comumente prescritos, mas potencialmente inapropriados para idosos
  4. Ser regularmente atualizados para incorporar novas evidências e recomendações

A implementação desses protocolos pode ajudar a reduzir a variabilidade nas práticas de prescrição e melhorar a segurança do paciente.

Regulamentação e Monitoramento de Prescrições

É necessário um esforço conjunto das autoridades de saúde e órgãos reguladores para:

  • Estabelecer diretrizes claras para a prescrição de medicamentos em idosos
  • Implementar sistemas de monitoramento para identificar padrões de prescrição inadequados
  • Criar mecanismos de feedback para prescritores sobre suas práticas de prescrição
  • Desenvolver indicadores de qualidade relacionados à prescrição segura em idosos

Estas medidas podem ajudar a criar um ambiente regulatório que promova práticas de prescrição mais seguras e eficazes.

Incentivos para Práticas de Prescrição Segura

A implementação de sistemas de incentivos pode encorajar a adoção de práticas de prescrição mais seguras:

  1. Reconhecimento e premiação de instituições que demonstrem excelência em prescrição geriátrica
  2. Inclusão de métricas de prescrição segura em avaliações de qualidade hospitalar
  3. Incentivos financeiros para profissionais e instituições que adotem e sigam protocolos de prescrição segura
  4. Apoio a pesquisas e iniciativas voltadas para a melhoria da prescrição em idosos

Estes incentivos podem motivar mudanças positivas nas práticas de prescrição e promover uma cultura de segurança do paciente.

Integração da Farmacologia Geriátrica na Formação Médica

Para garantir que os futuros médicos estejam bem preparados para prescrever de forma segura para idosos, é essencial:

  • Incluir módulos específicos de farmacologia geriátrica nos currículos de graduação médica
  • Oferecer programas de residência e fellowship em geriatria com ênfase em prescrição segura
  • Desenvolver cursos de educação continuada focados em práticas de prescrição para idosos
  • Promover a colaboração entre faculdades de medicina e instituições geriátricas para proporcionar experiências práticas aos estudantes

Investir na formação adequada dos profissionais de saúde é fundamental para melhorar as práticas de prescrição a longo prazo.

Igor Macedo

Graduado. Especialista de conteúdo de Benefícios Sociais, com milhares de textos publicados. Revisor grupo Sena Online

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