INSS: Greve de peritos aumenta fila para benefĂcios; entenda
Filas aumentam e governo busca soluções para o impasse.
![Fila de atendimento no INSS durante a greve dos peritos mĂ©dicos, com pessoas aguardando para receber benefĂcios.](/wp-content/uploads/2025/02/greve_de_peritos_resized_compressed-780x470.webp)
A situação atual do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem gerado preocupação entre os segurados e a população em geral. A greve parcial dos peritos mĂ©dicos, iniciada em agosto de 2024, tem causado um aumento significativo no tempo de espera para a realização de perĂcias mĂ©dicas, essenciais para a concessĂŁo de diversos benefĂcios previdenciários.
O inĂcio da greve e suas motivações
A paralisação parcial dos peritos mĂ©dicos do INSS teve inĂcio em agosto de 2024, como resultado de um impasse nas negociações entre a categoria e o governo federal. As principais reivindicações dos peritos incluem:
- Cumprimento integral do acordo firmado em 2022
- Manutenção das normas de produtividade estabelecidas anteriormente
- Revisão do novo Programa de Gestão e Desempenho implementado pelo Ministério da Previdência Social
Os peritos argumentam que o novo programa, criado em meados de 2024, desconsidera critĂ©rios tĂ©cnicos estabelecidos ao longo de duas dĂ©cadas de atuação da perĂcia mĂ©dica no INSS. Segundo a Associação Nacional dos Peritos MĂ©dicos Federais (ANMP), a meta de produtividade definida para a carreira foi estabelecida com base em estudos e análises que priorizam o atendimento de qualidade aos segurados.
A categoria alega que o aumento da quantidade de perĂcias e a redução do tempo por atendimento, como proposto pelo governo, podem resultar em:
- Diminuição da qualidade dos exames periciais
- Aumento no Ăndice de erros nas avaliações
- PossĂvel concessĂŁo indevida de benefĂcios ou negação injusta de direitos aos segurados
O impacto da greve na fila de espera
O efeito mais visĂvel e imediato da greve dos peritos mĂ©dicos Ă© o aumento significativo na fila de espera para a realização de perĂcias. De acordo com dados do MinistĂ©rio da PrevidĂŞncia, a situação evoluiu da seguinte forma:
- Julho de 2024 (mĂŞs anterior Ă greve): 576,3 mil pessoas aguardando atendimento
- Agosto de 2024 (inĂcio da greve): 606 mil pessoas na fila
- Janeiro de 2025 (dados parciais): 686 mil pessoas esperando por uma perĂcia mĂ©dica
Medidas adotadas pelo governo
Diante do impasse e do crescente número de pessoas na fila de espera, o governo federal, por meio do Ministério da Previdência Social, adotou algumas medidas para tentar mitigar os efeitos da greve:
- Implementação de nova estratĂ©gia de reagendamento: A partir de 27 de janeiro de 2025, as perĂcias marcadas com mĂ©dicos em greve passaram a ser automaticamente remarcadas pela Empresa de Tecnologia e Informações da PrevidĂŞncia (Dataprev) para outros peritos disponĂveis.
- Notificação aos segurados: Os beneficiários passaram a receber informações sobre novas datas de atendimento através do aplicativo Meu INSS, do canal telefônico 135 e por SMS.
- Corte de ponto dos grevistas: O ministro da Previdência, Carlos Lupi, determinou o desconto nos salários dos peritos que aderiram à greve.
- Bloqueio de agendas: As agendas de atendimento dos servidores participantes da greve foram bloqueadas, permitindo a transferĂŞncia dos atendimentos para profissionais que nĂŁo aderiram ao movimento.
A posição da ANMP e as ações judiciais
A Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais (ANMP) tem se posicionado firmemente contra as medidas adotadas pelo governo, considerando-as arbitrárias e prejudiciais ao movimento grevista. As principais ações e argumentos da ANMP incluem:
- Recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ): A associação recorreu à corte para suspender o corte de ponto e o bloqueio das agendas dos peritos em greve.
- Alegação de “lockout”: A ANMP argumenta que o bloqueio das agendas configura uma forma de “greve do empregador”, prejudicando o atendimento parcial que vinha sendo realizado pelos grevistas.
- Questionamento dos dados do TCU: A associação contesta os dados utilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para embasar a decisão que declarou ilegal dispositivos do acordo de greve de 2022.
- Defesa da qualidade do atendimento: A ANMP insiste que as metas de produtividade estabelecidas anteriormente garantem um atendimento de qualidade aos segurados e evitam erros nas avaliações periciais.
O Papel do Tribunal de Contas da UniĂŁo
O Tribunal de Contas da União (TCU) desempenhou um papel significativo no desenrolar da situação, ao declarar ilegais dispositivos do acordo de greve firmado em 2022. Esta decisão foi um dos fatores que levaram o Ministério da Previdência Social a criar o novo Programa de Gestão e Desempenho (PGD) para a categoria dos peritos médicos.
- Análise de produtividade: O tribunal considerou que o acordo de 2022 reduzia em 40% a produtividade dos peritos, o que seria prejudicial ao serviço público.
- Recomendações ao Ministério da Previdência: Com base em sua análise, o TCU orientou a pasta a revisar os critérios de produtividade da categoria.
- Contestação pela ANMP: A associação dos peritos questiona os dados utilizados pelo TCU, alegando que a corte nĂŁo ouviu a categoria nem considerou os critĂ©rios tĂ©cnicos estabelecidos ao longo de 20 anos de atuação da perĂcia mĂ©dica.
- Impacto nas negociações: A decisão do TCU tem sido utilizada pelo governo como justificativa para a implementação do novo PGD, dificultando as negociações com a categoria.
O novo programa de gestĂŁo e desempenho
O Programa de GestĂŁo e Desempenho (PGD) implementado pelo MinistĂ©rio da PrevidĂŞncia Social em 2024 Ă© um dos pontos centrais do conflito entre o governo e os peritos mĂ©dicos. Suas principais caracterĂsticas e implicações sĂŁo:
- Objetivo de aumento de produtividade: O ministério afirma que o novo programa visa aumentar a eficiência no atendimento aos segurados do INSS.
- Alinhamento com o TCU: O PGD foi desenvolvido em conformidade com as recomendações do Tribunal de Contas da União.
- Alta adesão: Segundo o Ministério da Previdência, 91% dos peritos aderiram ao novo programa.
- Contestação pela categoria: Os peritos argumentam que o aumento da quantidade de perĂcias em detrimento do tempo de atendimento pode comprometer a qualidade das avaliações.
- Impacto na carreira: A ANMP alega que o novo PGD desconsidera critĂ©rios tĂ©cnicos estabelecidos ao longo de anos de atuação da perĂcia mĂ©dica no INSS.
Perspectivas de resolução do conflito
A resolução do impasse entre o governo e os peritos mĂ©dicos do INSS Ă© fundamental para normalizar o atendimento aos segurados e reduzir a fila de espera para perĂcias. Algumas possĂveis vias para a solução do conflito incluem:
- Retomada das negociações: A abertura de um canal de diálogo entre o Ministério da Previdência e a ANMP é essencial para encontrar um meio-termo que atenda às necessidades de ambas as partes.
- Revisão do PGD: Uma reavaliação conjunta do Programa de Gestão e Desempenho, considerando os argumentos técnicos da categoria, poderia levar a um consenso sobre metas de produtividade.
- Mediação externa: A intervenção de órgãos como o Ministério Público do Trabalho ou a Justiça do Trabalho poderia facilitar um acordo entre as partes.
- Estudo tĂ©cnico independente: A realização de um estudo abrangente sobre a produtividade e qualidade das perĂcias mĂ©dicas por uma entidade neutra poderia fornecer bases mais sĂłlidas para a definição de metas.
- Plano emergencial: A implementação de medidas temporárias para reduzir a fila de espera, como a contratação de peritos temporários ou a realização de mutirões de atendimento, poderia aliviar a pressão sobre o sistema enquanto as negociações avançam.