A população idosa representa um grupo de risco significativo quando se trata de infecções graves pela dengue. No Brasil, esse segmento concentra as maiores taxas de hospitalização relacionadas à doença. Porém, apesar da urgência em proteger os idosos, a vacina Qdenga, única opção disponÃvel atualmente, não é recomendada para pessoas acima de 60 anos, de acordo com sua bula.
Essa restrição etária existe porque os testes clÃnicos que embasaram a aprovação da Qdenga não incluÃram indivÃduos com mais de 60 anos. Consequentemente, não há dados sobre a eficácia e segurança do imunizante nessa faixa etária. No entanto, algumas autoridades reguladoras internacionais, como a Agência Europeia de Medicamentos e a Agência Argentina de Medicamentos, liberaram a vacina para toda a população acima de 4 anos.
Por que a vacina contra dengue é importante para idosos?
Os dados das epidemias mostram que proteger os idosos da dengue é necessário. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, em 2022, 79% dos óbitos provocados pela doença ocorreram em pessoas com mais de 60 anos. No ano anterior, das 11 mortes registradas, oito foram em idosos.
Esses números alarmantes se explicam pelo fato de que os idosos geralmente apresentam comorbidades crônicas, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, muitos estão em estado de imunossupressão, seja por fatores naturais relacionados ao envelhecimento (imunossenescência) ou pelo uso prolongado de medicamentos imunossupressores, como corticoides.
Essas condições tornam os idosos mais vulneráveis a complicações graves da dengue, aumentando o risco de hospitalização e morte. Portanto, a vacinação contra a doença é uma medida essencial para proteger essa população fragilizada.
Prescrição “off-label” da vacina contra dengue para o público da terceira idade
Embora a bula da Qdenga não recomende seu uso em idosos, alguns médicos têm prescrito a vacina para essa faixa etária em uma prática conhecida como “prescrição off-label”. Isso significa que o medicamento é utilizado fora das indicações oficiais, com base em evidências cientÃficas que sugerem benefÃcios.
No entanto, essa prática tem sido dificultada pela escassez da vacina no mercado brasileiro. Como a demanda pelo imunizante tem sido alta desde sua liberação pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o laboratório produtor não tem conseguido suprir a demanda de clÃnicas privadas.
Riscos e precauções na vacinação de idosos
Embora a prescrição off-label da vacina contra dengue para idosos seja uma possibilidade, é importante considerar alguns riscos e precauções. Como a Qdenga é uma vacina de vÃrus atenuado (enfraquecido), e não de vÃrus morto, indivÃduos com imunidade comprometida podem apresentar reações adversas mais intensas, como mal-estar geral e febre.
Portanto, é essencial que o idoso interessado em se vacinar contra a dengue converse detalhadamente com seu médico, avaliando seu histórico de saúde e possÃveis contraindicações. Um acompanhamento cuidadoso é necessário para garantir a segurança do processo de vacinação.
Prevenção da dengue em idosos: medidas complementares
Enquanto a disponibilidade da vacina contra dengue para idosos ainda é limitada, é fundamental adotar medidas preventivas complementares. As medidas recomendadas para o público incluem:
- Evitar o acúmulo de água parada, eliminando potenciais criadouros do mosquito Aedes aegypti;
- Usar repelentes, especialmente pela manhã e no final da tarde, quando o mosquito está mais ativo;
- Utilizar roupas de manga longa e cores claras, que dificultam a visualização do mosquito;
- Manter janelas e portas fechadas ou usar telas para protegê-las.
Embora essas medidas não substituam a vacinação, elas são essenciais para reduzir o risco de infecção pela dengue enquanto a disponibilidade da vacina para idosos não é ampliada.
Perspectivas futuras para a vacinação de idosos contra a dengue
Especialistas acreditam que os dados cientÃficos em breve permitirão a liberação oficial da vacina contra a dengue para as pessoas com idade mais avançada. Essa expectativa se baseia no reconhecimento do risco elevado que a doença representa para esse grupo etário e na crescente demanda por proteção.
Enquanto isso não ocorre, é fundamental que idosos, familiares e profissionais de saúde estejam cientes das limitações atuais e das precauções necessárias caso optem pela prescrição off-label da vacina. A prevenção da dengue em idosos requer uma abordagem multifacetada, combinando medidas de controle vetorial, conscientização e, eventualmente, vacinação segura e eficaz.