Imagine descobrir que aquilo que achávamos ser uma condição única na verdade possui diferentes faces, cada uma com suas próprias características e necessidades. Foi exatamente isso que aconteceu com o autismo. Um estudo publicado na quarta-feira (9) na revista Nature Genetics identificou quatro subtipos distintos do transtorno do espectro autista (TEA), mudando completamente a forma como entendemos essa condição.
Essa descoberta, realizada por pesquisadores da Universidade de Princeton e da Fundação Simons, analisou dados de mais de 5 mil crianças. O resultado promete transformar o futuro de milhões de pessoas autistas ao redor do mundo, oferecendo esperança para tratamentos mais direcionados e eficazes.
A pesquisa revelou que o autismo não é uma condição homogênea, mas sim um espectro com perfis bem definidos. Cada subtipo apresenta características únicas que vão desde o desenvolvimento motor até aspectos genéticos específicos.
Este grupo representa 37% dos participantes do estudo. São pessoas que apresentam as características mais conhecidas do autismo: dificuldades de interação social e comportamentos repetitivos. Mas o desenvolvimento motor e de fala acontece dentro do tempo esperado.
O que torna esse subtipo particular é a presença frequente de outras condições. TDAH, ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo que aparecem com regularidade nesse grupo.
Representando 19% dos casos estudados, esse subtipo caracteriza-se principalmente pelos atrasos no desenvolvimento. As crianças demoram mais tempo para andar e falar, mas apresentam uma característica interessante: geralmente não desenvolvem ansiedade ou comportamentos marcantes.
O maior grupo, com 34% dos participantes, apresenta sintomas mais leves. Essas crianças alcançam os marcos de desenvolvimento no tempo esperado e normalmente não apresentam outras condições psiquiátricas associadas. A identificação precoce desse perfil permite intervenções mais leves e focadas nas necessidades específicas.
O subtipo mais desafiador, representando 10% dos casos, combina atrasos severos no desenvolvimento com dificuldades sociais e comportamentais intensas. Ansiedade, depressão e alterações de humor são frequentes nesse grupo.
“É um paradigma totalmente novo”, afirma Chandra Theesfeld, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo. A identificação desses subtipos permite que médicos e terapeutas abandonem a abordagem única para todos e passem a desenvolver estratégias específicas para cada perfil.
Jennifer Foss-Feig, coautora do estudo, destaca que essa compreensão pode trazer mais clareza para as famílias. Saber qual subtipo de autismo uma criança apresenta oferece informações valiosas sobre o prognóstico e as melhores formas de apoio.
A descoberta também explica por que estudos genéticos anteriores apresentavam resultados tão diversos. Cada subtipo possui sua própria assinatura genética, com genes atuando em momentos diferentes do desenvolvimento. Alguns agem ainda durante a gestação, outros apenas na infância.
As descobertas sobre os subtipos do autismo representam apenas o início de uma nova era na compreensão do TEA. Os pesquisadores pretendem aprofundar as investigações sobre os mecanismos biológicos de cada subtipo e avaliar se outras condições do neurodesenvolvimento também podem ser divididas em grupos semelhantes.
A possibilidade de identificar o subtipo específico logo após o diagnóstico permitirá intervenções mais adequadas, desde terapias direcionadas até adaptações escolares personalizadas.
O conhecimento sobre esses diferentes perfis do autismo nos convida a repensar nossas percepções. Afinal, se o espectro autista é tão diverso em suas manifestações, não seria hora de ampliarmos também nossa capacidade de acolher e incluir essas diferenças em nossa sociedade?
O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, ganha ainda mais relevância com essas descobertas. Em 2025, o tema da campanha nacional brasileira é “Informação gera empatia, empatia gera respeito”, acompanhado da hashtag #RESPECTRO.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 70 milhões de pessoas vivem dentro do espectro autista globalmente, com cerca de 2 milhões no Brasil. A campanha de 2025 também destaca a conexão entre neurodiversidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mostrando como políticas inclusivas beneficiam toda a sociedade.
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