Aposentados em risco: Apostas consomem mais de R$ 3 mil mensais de idosos
Jogo de risco: apostas aprofundam vulnerabilidade em famÃlias de baixa renda.
O Brasil enfrenta uma crise silenciosa, mas de proporções alarmantes: a epidemia de apostas online. Dados recentes divulgados pelo Banco Central revelam que essa prática está consumindo uma parcela significativa da renda de milhões de idosos, colocando em risco sua estabilidade financeira e bem-estar.
Conforme a análise do BC, indivÃduos acima de 50 anos tendem a gastar, uma média de R$ 2.500 por mês em atividades de apostas e jogos de azar. Esse valor sobe para R$ 3.000 mensais entre aqueles com mais de 60 anos, superando a média nacional de aposentadorias urbanas, que é de R$ 1.863,38, e rurais, de R$ 1.415,06.
Idosos em risco
Os números revelados pelo Banco Central são verdadeiramente chocantes. Estima-se que pelo menos 2 milhões de idosos estejam comprometendo uma parcela significativa de suas rendas com apostas online. Essa situação é particularmente preocupante, pois muitos desses indivÃduos dependem exclusivamente de suas aposentadorias para seu sustento.
O Banco Central identificou cerca de 24 milhões de pessoas fÃsicas que realizaram ao menos uma aposta no perÃodo analisado, com a maioria tendo entre 20 e 30 anos. No entanto, os gastos com jogos de azar crescem exponencialmente com a idade, atingindo nÃveis alarmantes entre os idosos.
Impacto nas famÃlias de baixa renda
Além dos idosos, outro grupo particularmente vulnerável a essa epidemia são as famÃlias de baixa renda beneficiárias de programas de transferência de renda, como o Bolsa FamÃlia. O BC afirma que apenas em agosto, 5 milhões de beneficiários enviaram impressionantes R$ 3 bilhões via Pix para as empresas de apostas.
A mediana dos valores gastos por pessoa é de R$ 100, e cerca de 70% dos apostadores são os próprios chefes de famÃlia, responsáveis por receber o benefÃcio. Isso indica que cerca de 21% dos beneficiários destinaram uma parte significativa do Bolsa FamÃlia a casas de apostas.
Consequências sociais e econômicas
Essa situação não apenas compromete a segurança financeira dessas famÃlias, mas também pode aumentar a desigualdade social no paÃs. Especialistas alertam que, para cada real apostado, uma famÃlia perde o dobro em poupança, impactando diretamente sua capacidade de investir em áreas essenciais, como educação e saúde.
Além disso, o dinheiro despejado nas casas de apostas alimenta um sistema pouco produtivo, que gera poucos empregos e não traz os mesmos benefÃcios econômicos que setores mais tradicionais, como vestuário, alimentação ou turismo.
Impacto psicológico e familiar
Além das consequências financeiras, o vÃcio em apostas online também pode acarretar sérios danos psicológicos e sociais. Rodrigo Machado, psiquiatra e pesquisador do Instituto de Psiquiatria da USP, alerta para o risco de dependência comportamental, conhecido como Transtorno do Jogo.
Segundo Machado, essa condição pode levar a uma perda de controle, com gastos excessivos e horas intermináveis dedicadas à s atividades de aposta. Isso pode afetar outras esferas da vida do indivÃduo, como problemas familiares, queda de desempenho no trabalho ou na vida acadêmica.
Vulnerabilidade dos jovens
Além dos idosos e famÃlias de baixa renda, outro grupo preocupante é o dos jovens. Machado explica que até a idade de 22 a 24 anos, o córtex cerebral está em franco processo de amadurecimento. As vias cerebrais ainda não foram suficientemente desenvolvidas antes disso, o que cria um grande potencial de vulnerabilidade para a população agora exposta a essas práticas.
O papel da publicidade e influenciadores
Parte da responsabilidade por essa epidemia recai sobre a publicidade e o uso de influenciadores digitais para promover as apostas online. Muitas vezes, a população não tem noção dos riscos envolvidos, sendo seduzida por promessas de renda extra e ascensão social.
Machado cita o exemplo do “jogo do tigrinho”, em que influenciadores faziam pressão popular, alegando ser uma fonte de renda extra, sem esclarecer que se tratava de uma atividade de aposta com alto risco de perdas.
Regulamentação: uma necessidade urgente
Diante desse cenário, especialistas e autoridades concordam que é urgente a implementação de uma regulamentação rigorosa para o setor de apostas online. Algumas das medidas sugeridas incluem:
- Regulamentação mediada pelo Congresso Nacional.
- Medidas voltadas para a educação e prevenção de adoecimento mental, com informações mais amplas sobre os riscos relacionados à prática.
- Restrições rÃgidas à publicidade e ao uso de figuras públicas
Declarações do governo e Banco Central
O governo brasileiro já sinalizou que está discutindo a adoção de medidas para regular as “bets”, mas ainda sem informações concretas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a regulamentação mais rÃgida para a publicidade comercial e a proibição do uso de cartões de crédito.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também reconheceu o crescimento do setor de apostas como um problema que pode aumentar as expectativas de endividamento e inadimplência. Ele afirma que o valor que os jogadores transferem para empresas do setor por meio do Pix aumentou mais de 200% desde janeiro.